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quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Cidade de Québec. A cereja do Bolo

  Após percorrermos milhares de quilômetros por este imenso país, o Canadá, chegamos à cereja do bolo: Quebeque ou Québec.
  A sensação é aquela de que você tem, saboreando um bolo, ao chegar ao seu final. A cobertura tem aquela cereja que você preservou para o fim e que produz, ao mordê-la, aquela explosão adocicada que atinge toda a sua boca, num último prazer gustativo, deixando as pobres papilas gustativas tontas de prazer.
  É assim que vejo esta cidade, construída em um abrigo lá em cima da montanha, olhando lá embaixo o braço mais estreito do rio São Lourenço que, ainda enorme, move-se majestosamente em direção ao oceano.
  Esta localização altiva e privilegiada serviu de abrigo providencial em muitos momentos passados. A constância da necessidade de defesa,seja em seu começo, contra os seus povos autóctones ou depois, contra o grande império britânico, permitiu que sua localização fornecesse guarda e identidade para esta cidade tão francesa.
  Fundada em 3 de Julho de 1608 pelo francês Samuel de Champlain, em terras dos povos Algoquins e Iroqueses, cresceu lentamente sob a cobiça britânica e o abandono francês. Esta cidade da Nova França, muitas vezes conquistada por ingleses, apesar de já ter sido capital do chamado ironicamente “Canadá Inglês”, sempre se manteve francesa em suas tradições. Os turbilhões de sua história fizeram com que o orgulho da origem franca crescesse nos corações e mentes deste povo que tem como base cultural o seu apego à antiga metrópole. Esta relação, ao contrário de outras entre ex-colônia e metrópole, é totalmente inversa ao normal. Aqui, os colonizados amam a metrópole, ao invés de reclamarem sua herança de sofrimento, exploração ou outras mazelas, como acontece com tantos povos.
  Evidentemente, a miscigenação ausente com seus povos de origem, a sua total aniquilação e o controle migratório restrito à França e francófonos, além de seu distanciamento defensivo do Canadá inglês e seu julgo britânico intermitente , permitiu a sua sobrevivência. Hoje em dia Québec é Canadá e parece que os desejos até recentes de separação foram sepultados por outros interesses maiores.
  Coberta por neve a maior parte do ano, a cidade é normalmente gélida no que se refere a clima. Mas sua característica arquitetônica e urbanística única a faz muito especial na América do Norte, cheia de cidades modernas, semelhantes e plastificadas. A única “cidade” entre as 35 áreas patrimônio da humanidade da UNESCO nos dois países ricos da América do Norte e única cidade murada da região é Québec.
  É na velha Québec, esta região por dentro de seus muros, que você deve escolher o lugar onde irá se hospedar. Fiquei no acessível e simpático Hotel Champlain (hotelchamplainquebec.com) .Como a cidade não é grande, qualquer localização em seu interior será adequada.
  Muros com pórticos, ruelas tortuosas com pisos em pedras cortadas, casas de arquitetura francesa, cavalos passeando com turistas, galerias de arte, lojinhas, centenas de turistas se acotovelando, restaurantes franceses, francófilos e pseudofrancófilos. Tudo isto é Québec. Num primeiro momento pode dar a impressão de uma cidade medieval francesa administrada pela Disney. Esta sensação dá uma aparência inicial uma pouco incômoda. Fica parecendo imitação. Mas depois de você percorrer suas ruas e se misturar com suas multidões verá que, se a cidade é turística de massa demais, se deve não a uma transformação forçada para se mostrar assim, mas por ser, em síntese, bela per si.
  Apesar de um grande museu : o museu da civilização http://www.mcq.org/index_fr.html , que você deve ir se tiver tempo, a cidade em si é a atração. Preste atenção ao forte de Québec: a grande muralha de quatro quilômetros de extensão, construída em 1760, para proteger a cidade dos lagostas vermelhas (soldados ingleses), veja a praça real, a linda rua petit Champlain com suas casas ainda originais e, fora das muralhas, o velho porto para passear e, como não poderia deixar de ser, a sua visão mais imponente: o chateau Frontenac, sempre preponderante na visão sistêmica da cidade emurada.
  Mas o seu maior encanto está em seus aspectos microambientais. Entrar em suas lojinhas , casas, bares, creperias, cafés.
 E principalmente, observar o que acontece nas ruas. São inúmeras as apresentações de grupos musicais, estátuas vivas, música de todo o planeta e figuras fantasiadas que vão de pessoas a insetos gigantes. Tudo dentro do espírito da terra do circo mais famoso do mundo, o cirque du soleil, que celebra o sol. Talvez por ser este celebrado sol tão raro por estas bandas. Talvez porque celebrar a vida é possível homenageando o sol, amigo ausente e que, quando presente, deve ser comemorado em cada segundo de um dia longo de verão na histórica Québec.

Damos adeus a este grande país.
Nos encontraremos em nosso próximo destino: o Havaí

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