Total de visualizações de página

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Infinito


  Meu contato com você se deu em minha primeira viagem.
  Após 3 horas e meia de hélices, dores de ouvido e muita paciência dos passageiros vizinhos, pousava em seu seio.
 Era o dia 18 de Outubro, portanto, com longos e vividos 14 dias de nascido, conheci você, esta jovem senhora, que comemora hoje seus 50 anos.
 Cheguei lá de cima, pelos ventos  que me levaram , entre redemoinhos e horizontes longínquos.
 Em sua pista empoeirada, seu aeroporto de placas de madeiras desenhadas como as listas de uma camisa de um time de rugby, ou de um flamengo de listas azuis e azuis, não pisei o seu solo em meu primeiro contato.
 Muito ao contrário, fui carregado entre mãos de mãe, tias e curiosos em me conhecer.
 Mas se não pisei o seu solo em meu primeiro contato, e se muito menos beijei o seu solo como fazia um Papa santo até pouco tempo, iniciei ali , naquele momento, uma relação intensa e que nunca compreendi. Talvez porque nunca me compreendi.
Em poucos meses  tive a ousadia de começar a me arrastar e depois a caminhar em seu solo.
Você era jovem, vazia, com horizontes largos , cuja vista não tinha limites a alcançar.
Me deslumbrei então...
 A sua troca de roupas foi minha paixão instantânea .

  De dia , o seu vestido era imensamente azul . Lembro-me a olhar seus panos cor celeste e quantas vezes eu vi estrelas cadentes caindo como gotas de ouro de sua longa veste.
  Flertava-a, porque a achava certamente muito bela. Por muitos anos acreditava que te olhava somente por ser mais fácil sonhar assim fazendo-o. Coisas de sonhador...
  Mas muito tempo depois descobri que era você meu primeiro amor platônico. Um amor que jamais se consolidou, nunca me foi completamente aceito, mas que me traio quando desvio meus olhos para você , fingindo desinteresse, quando a vejo.
 Meu Deus.
  A intensidade destas sensações era maior à noite, quando os instintos se liberam e o corpo não reage com repressão.
  A sua roupa noturna era uma veste imensa, de azul escuro intenso, com algumas manchas ligeiramente alvas que te encobriam, como restos de algodão doce que tivessem caído e uma mão grudenta e de bocas gulosas. Havia infinitas estrelas a piscar e enfeitar seu manto. As conseguia enxergar tão bem que algumas pareceriam mais amarelas, outras me pareciam avermelhadas , outras me pareciam fixas e as demais piscavam mais ou menos intensamente, como a iluminação de uma árvore de natal de fontes de energia díspares.
E eu, ficava ali deitado sobre o gramado, olhando para você...
Você cresceu, eu cresci...
A correria do dia a dia raramente me possibilita olhar para você e suas lindas roupas.

  A mais bela vestimenta sua  então, nunca mais vi.
  Aquela que a cobre  de matizes amarelos, dourados, alaranjados, vermelhos, azuis e cinzas entre tantas menos conhecidas cores , que somente filatelistas conhecem, como o  magenta, carmins e sépia...
 E como confundem minha alma racional, deixando-me sem reação, a não ser olhá-la. Visão esta  que certamente  encantaria qualquer pintor, que gulosamente comem imagens e bebem sensações e as transformam em tintas devolvendo-as em telas mágicas,
Infelizmente não sou pintor...
 E o astro rei, em seu repouso transforma este seu  vestuário a cada segundo.
 Triste de mim  não poder parar a  cada  momento deste e olhar para você de novo. Ver a sua troca de roupas e me inebriar com seu charme e grandeza.
  Mas estes 50 anos, em que você se tornou tão grande, ainda mais ininteligível para mim, quero parar de novo e olhar para você .
Como eu fazia quando era criança.
Sem pensar muito.
 Só te admirando.
Sabendo que você tem muito mais que os 50 que te dizem possuir.
 Pois você é infinito, meu céu de Brasília....


Obs. Se voce estiver em Bras[ilia em um dia ensolarado, pegue um taxi as 17 horas e pe;a para ir ao Pontao. Procure um de seus bares tipo Mormaii ou o Bier Fass e curta o por do sol em alto estilo